em_construção

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sempre, mas na tranquilidade

segunda-feira, 16 de junho de 2008

diário #3 e #4

Alfama, Alfama, Alfama - Santos Populares.

Esta semana estamos a trabalhar num dos corações das festas populares lisboetas e no café ao nosso lado, sentimos toda essa energia que contamina a preparação desta zona.

Monta-se bancas e preparam-se os barris de metal para assar sardinhas na hora...

De uma das janelas do outro lado ouve-se uma paisagem sonora diferente, o som da música ligeira portuguesa, mistura-se com o tráfego e com ocasionalmente os barcos.

No final do dia, saimos do espaço e sem ouvir o aviso, piso o chão limpo, olho para a cara da empregada e fico muito aflito.

Mas é uma situação ambígua...

E é agora que me apercebo, que é exactamente na ambiguidade que eu gosto de estar, são esses múltiplos caminhos, que se resolvem com gestos simples, com sons simples, com olhares simples.

Mas viver nesse recanto também levanta os seus perigos. E esta coisa da comunicação levanta outros problemas.

Há alturas em que me sinto realmente aflito e as pessoas que estão à minha volta ficam aflitas e eu sem saber...fico ainda mais aflito.

Na verdade é este mesmo processo que uso quando faço som com o meu portátil e existe um diálogo com outras pessoas, eu antecipo de alguma forma ... é a minha intuição.. . É um processo vivo e que me permite adensar o trabalho.

Questiono-me se será possivel estender este fenómeno a todos os cantos da minha vida e personalidade...


Vou acabar este texto com um link que esclarece a classificação científica do morcego :

http://pt.wikipedia.org/wiki/Morcego


Agora vamos a uma sardinha?!


#4

Ontem estava a prometer chuva...E hoje choveu. Só um pouco.
Com isso fomos obrigados a fazer algumas mudanças, para ver se conseguiamos manter o nosso material ( texturas ) o mais seco possível.

Do nosso sítio onde fazemos uma pequena pausa e jantamos, vemos e ouvimos lá ao fundo no “campo das cebolas”, um arraial...tem sido assim, todos os dias... Começamos a pensar se esta actividade se vai manter até julho...até à altura em que fazemos a nossa apresentação.
Ensaiamos e testamos os nossos balanços, o nossos rolares. Gostei muito de ouvir e sentir todos os objectos a espalharem-se...De repente num silêncio mais profundo, ainda ouvimos o arraial, bem lá ao fundo, presente...

Na realidade não sabemos quando tempo vai lá ficar...Mas houve qualquer coisa que me agradou nesse ridículo, nessa estranheza....mas ao mesmo tempo, sinto que essa intromissão, faz parte da beleza deste espaço, esta possibilidade de outros sons estranhos entrarem na nossa composição musical, nos nossos silêncios...Sinceramente, sinto isso como uma mais valia para o meu trabalho.... Mas não há certezas e sinceramente não me sinto apegado a nada, está tudo em aberto .

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